segunda-feira, 25 de abril de 2016

Texto 3-2

3.2. SEGUNDO ESTUDO:

DOS HÁBITOS DAS PERFEIÇÕES

ESPIRITUAIS

ESTUDO PSICOLÓGICO E PEDAGÓGICO
DOS HÁBITOS, SEU VALOR NA EDUCAÇÃO
E NA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE,
HÁBITOS ESSES QUE CONSTITUEM A
ESPINHA DORSAL DO PROCESSO DE ALMODAGEM
DO POTENCIAL ESPIRITUAL DO EDUCANDO

PENSAMENTOS DIRETRIZES:
“O HÁBITO É UMA SEGUNDA NATUREZA”
(Aristóteles)

“A EDUCAÇÃO É O CONJUNTO DOS HÁBITOS ADQUIRIDOS”
(Allan Kardec – LE, 9.685ª)

“TODA EDUCAÇÃO CONSISTE NA ARTE DE FAZER PASSAR O CONSCIENTE PARA O INCONSCIENTE”
(Gustave Lê Bon - “Psicologia da Solução” – Livro III, Cap. 1:

“PODE-SE COMPREENDER O HÁBITO COMO A PASSAGEM DE UM ATO CONSCIENTE PARA O INCONSCIENTE”
(Paul Guillaume – “A Formação dos Hábitos”)











3.2. SEGUNDO ESTUDO
DO HÁBITO DAS PERFEIÇÕES ESPIRITUAIS

ESTUDO PSICOLÓGICO E PEDAGÓGICO DOS HÁBITOS, SEU VALOR NA EDUCAÇÃO E NA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE1

A didática do Afloramento induzido das Perfeições Potenciais do Espírito, institui o hábito como seu objetivo mais operacional a ser promovido.
Deve-se, portanto estuda-lo muito bem.

2.1. CONCEITUAÇÃO DE HÁBITO.

2.1.1. O QUE É O HÁBITO (idéias)
a)      Estimalogia
Sentido etimológico da palavra: o vocábulo hábito vem do latim habere (ter), uma propriedade de conservar (manter) o passado (JOLIVET).
— ARISTÓTELES identificava hábito com a moral2. Em grego, aliás, as duas palavras são quase idênticas. Tanto que o “habere” (hábito) é o possuir algo; e esse algo é a virtude, ou a ciência, segundo o mesmo filósofo (dic. F. MORA).
Comento. Na “Pedagogia da Espiritualidade”, procura-se induzir, hábil e didaticamente, o educando a conquistar (ter) um elenco de oito perfeições fundamentais e respectivas perfeições derivadas, sob a forma de hábitos morais e espirituais. O passado a ser mantido consiste na acumulação sucessiva e anterior dos resíduos de todos os atos praticados nesse passado. Acumulação essa que constitui o alicerce do hábito.


1Este tópico poderia ser incluído no capítulo sobre a Psicologia. No entanto, a formação do hábito é tão decisiva para a Didática, neste caso particular, que recomenda sua transferência para um capítulo, à parte como este.
2Em “Étida a Nicômaco” (Livro II, Cap. I, 1º, p).


b)      Citações:
     “Hábito é uma disposição adquirida, pela repetição, para conservar ou reproduzir, com facilidade crescente, atividades exercidas anteriormente” (T.M. SANTOS). “O hábito representa o momento em que o ser vivo inere o passado no presente e modela sua conduta atual à custa das experiências anteriores” (idem).
     “O hábito é uma maneira de ser ou de agir adquirida; comportando uma fase de formação e uma fase de estado” (GUILLAUME). “Pode-se compreender o hábito como a passagem de um ato consciente para o inconsciente” (idem).
Comento. No presente trabalho, o passado e as experiências anteriores constituem a prática árdua dos atos da perfeição desejada, ou seja, se referem ao 1º estágio da conquista dessa perfeição — que é o presente — este como a fase de estado e aquele passado como fase de formação desse estado.

2.1.2. O QUE O HÁBITO NÃO É
a)      Não é adestramento, que é o resultado de uma vontade exterior. O hábito se forma por dentro, por uma vontade própria (T.M. SANTOS).
b)      Não é reflexo, que é desencadeado pela natureza. O hábito é adquirido. Não é dado. O reflexo tem duração instantânea. O hábito tem duração, e, como estado, permanece (idem).
c)      Não é reflexo condicionado. Este reflexo pode ser condicionado por um hábito, por associação com algum excitante. Mas não é hábito (JOLIVET).
d)     Não é instinto. Este é “disposição primitiva e inata, enquanto que o hábito é disposição secundária e adquirida, baseada em um ou mais instintos. O instinto é imutável e comum a toda a espécie, ao passo que o hábito é variável e particular aos diferentes indivíduos” (T.M. SANTOS).
e)      Não é mecanismo psíquico e inconsciente. Ao contrário, “implica em certa capacidade de orientação. Os hábitos somente podem ser aprendidos quando adquiridos com consciência e discernimento da situação. Representa, portanto, um processo inteligente, intencional e auto-ativo” (T.M. SANTOS).
f)       Não é automatismo psicológico. Neste último, “as operações psíquicas se realizam sem intervenção do pensamento refletido e da vontade. Mas resta alguma coisa de espontâneo no automatismo, e o hábito tende a se tornar cada vez mais mecânico. No automatismo, é o mecânico que domina; no hábito, a espontaneidade” (idem).
Comento. A “Pedagogia da Espiritualidade”, visando à formação de hábitos morais:
— Não é adestramento, porque não resulta da vontade exterior e exclusiva do educador, embora o educador exerça uma grande influência. Sem o querer e a vontade esclarecida e consciente do educando nada se consegue. O educador é apenas o auxiliar motivador e indutor do querer do educando.
     Não é reflexo condicionado, porque o afloramento de uma perfeição potencial exige um longo tempo de muita luta do educando contra suas más tendências, e não se processa na instantaneidade de um reflexo.
     Não é instinto inato, porque o hábito da perfeição visada não é nato, e sim adquirido. Inatas são apenas as sementes das perfeições espirituais e potenciais que requerem esforço moral para sua germinação.
     Não é mecanismo psíquico e inconsciente, porque implica na 1ª fase, ou estágio, a plenitude da consciência. Tanto que os atos correspondentes são de cometimento árduo com muita luta íntima do educando. É por isso, também, um “processo inteligente, intencional e auto-ativo”.
     Não é automatismo psicológico pleno, porque esse automatismo, parcial esclareça-se, interfere apenas no 2º estágio, no qual o hábito já está formado. Hábito sem um certo automatismo psíquico não é hábito.

2.1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS HÁBITOS
JOLIVET considera que podemos ter tantos hábitos quantas funções possuirmos. Mas estabelece três grandes classes:
a)         hábitos intelectuais relativos às funções de conhecimento;
b)        hábitos motores que são mecanismos formados pelo exercício: escrever, ler, andar de bicicleta, os ofícios, etc.
c)         hábitos morais “que afetam a vontade (tanto podem ser de virtudes quanto de vícios).”
     São esses últimos, os morais que nos interessam no presente trabalho.
Também T.M. SANTOS reconhece a especificidade dos hábitos morais que denomina de hábitos da vontade.

2.1.4. FUNÇÕES DOS HÁBITOS
      Ou sejam, sua utilidade, seu papel na vida real dos homens.
a)       1ª Função – PROGRESSO. “O hábito é um instrumento de progresso. A atividade voluntária ocupada, a princípio, em produzir atos conscientes, fica livre desde o momento em que eles se tornam habituais, para fixar-se em outras coisas” (T.M. SANTOS)
“É graças a eles que o indivíduo aprende a falar, escrever, estudar, trabalhar, etc. Ele fortalece e desenvolve todas as funções e todas as capacidades. Permite evitar recomeços perpétuos”. (idem).
Comento. O progresso pretendido pela “Pedagogia da Espiritualidade” é do mais alto nível ou categoria, e até inexcedível: que é o progresso moral e espiritual do educando. A atividade voluntária, consciente e árdua, para a formação de um hábito de determinada perfeição espiritual, fica livre para se dedicar à formação do hábito de outras perfeições sucessivamente1 .


1WILLIAM JAMES: “Quanto mais confiarmos os detalhes da nossa vida diária à guarda do automatismo, onde todo esforço desaparece, tanto mais os poderes superiores do espírito estarão livres para cumprirem a sua tarefa”.
(apud J. de La Vaissière – in “Psicologia Pedagógica” – pág. 175).

b)      2ª Função – ADAPTAÇÃO. “Valemos o que valem os nossos hábitos. O hábito é um grande meio de adaptação. Por ele, o indivíduo adquire uma plasticidade orgânica e uma presteza de movimento que tornam mais fáceis os seus atos, possibilitando, assim, sua adaptação mais perfeita às necessidades da existência” (idem).
Comento. A “Pedagogia da Espiritualidade” é um grande fator de adaptação social, porque esta requer que qualquer cidadão manifeste um certo grau, ou um mínimo de humildade, caridade, indulgência, esperança, justiça, honestidade, lealdade e veracidade, que são as perfeições visadas por ela. Ou, pelo menos, que não exiba o oposto dessas perfeições: orgulho, ódio, vingança, desespero, iniqüidade, desonestidade, traição ou mendacidade.
c)       3ª Função – ECONOMIA. “Simplifica, cada vez mais, os mecanismos complexos, e, assim, economiza forças, que podem ser realizadas em novas atividades e novas iniciativas (idem).
Comento. A conquista do hábito de uma perfeição espiritual ainda que difícil e sofrida, representa posteriormente (no 2º estágio) uma grande economia de energia moral para manter essa perfeição. Porque, então, os atos passarão a ser praticados sem luta moral íntima.
d)      4ª Função – APROVEITAMENTO. “Faz com que nada se perca, porque toda ação realizada ou sofrida sobrevive em nosso organismo, ou em nossa consciência, sob a forma de tendência. O hábito faz com que o passado se sintetize no presente” (idem).
Comento. Todos os bons atos induzidos no educando, e por ele praticados no sistema pedagógico da espiritualidade jamais se perdem, porque como está dito acima, sobrevivem na consciência dele como boa tendência para a formação do respectivo hábito da perfeição anelada. Além do que perfeição realmente conquistada, jamais se perde: o aproveitamento dela é permanente.
e) 5ª Função – SEGUNDA NATUREZA. “O hábito funciona como uma natureza, ou uma segunda natureza” (apud JOLIVET).
Comento. O resultado final da aplicação hábil e correta da “Pedagogia da Espiritualidade” é o de uma profunda transformação no comportamento e pensamento do educando. Isto ao longo de anos de escolaridade espiritualizada estendendo-se até o fim da existência (“morrendo e aprendendo”). Propagando-se mesmo à vida futura espiritual, e alcançando a próxima reencarnação. É uma natureza pessoal do educando, que vai paulatinamente evoluindo ao longo de muitos e muitos anos, mas reiniciada1, no período escolar de sua vida.
e)       6ª Função – APRENDIZAGEM. O processo da aprendizagem intelectual, motora ou moral se dá pela formação dos respectivos hábitos. Quando se diz que o educando só terá aprendido quando incorporou ou internalizou o objeto da aprendizagem significa que formou o respectivo hábito manifestado na mudança do seu comportamento.
Comento. A aprendizagem espírita, no tocante à “Pedagogia da Espiritualidade”, é verificada pela média coletiva da turma escolar em avaliação. Quando constatado o crescimento quantitativo do total de atos da perfeição em desenvolvimento praticados pelos educandos. E o início do respectivo hábito é a prova dessa aprendizagem em desenvolvimento.

2.1.5. FORMAÇÃO DOS HÁBITOS

a)      PROCESSOS
     INTENÇÃO. A primeira disposição mental daquele que planejou formar um hábito é a da intenção. Sem ela, é óbvio, não haverá hábito, o qual tem um fortíssimo componente voluntário.
     INTERESSE. É o que dá a motivação pessoal e endógena à intenção; é o deflagrador dela.
      

1Reiniciada, porque se presume que já tenha sido iniciada em várias encarnações anteriores, por outros processos (vide o oitavo estudo mais adiante).

     ATENÇÃO. “A atenção, sob o impulso do interesse, escolhe os movimentos úteis, coordena os vários movimentos entre si e intensifica os atos realizados, concentrando-se sobre eles“ (T.M. SANTOS).
     CONSCIÊNCIA das situações que se apresentam, discernindo umas das outras; as da mesma natureza do hábito visado das outras que não apresentam nenhuma afinidade com ela.
     EXERCÍCIO. “Os hábitos só se fortalecem e progridem pela ação do exercício”, quer sejam de ordem motora, intelectual, ou moral”.
     REPETIÇÃO. É o processo fundamental da formação dos hábitos. Ela é necessária para vencer resistências que o organismo, ou a mente, opõem à sua instalação. Os autores não julgam a repetição como indispensável (T.M. SANTOS, JOLIVET, GUILLAUME). O que é absolutamente imprescindível é a mudança promovida no indivíduo em cada ato repetido desde o primeiro. “A repetição não produz senão uma sensação das mudanças (GUILLAUME).
     MUDANÇA. É o efeito causado no indivíduo pela repetição dos atos da mesma natureza do hábito a ser constituído. “Não haveria mudança no conjunto da história do ato, se de cada execução à seguinte também não houvesse. O hábito já se manifesta no primeiro ato. Pode ver-se em todo ato um hábito que começa” (GUILLAUME). “O desenvolvimento dos hábitos não se realiza, porém por simples repetições, mas sim por uma série de transformações” (T.M. SANTOS).
“Daí o equívoco da expressão popular: ´A repetição do mesmo movimento torna-o mais fácil´. A facilidade adquirida, ao contrário, não é mais do que a expressão das mudanças sofridas pelo movimento” (GUILLAUME).
Comento. Na formação dos hábitos morais e espirituais, na “Pedagogia da Espiritualidade”, são seguidos esses mesmos processos acima alinhados:
     Intenção. Sem a intenção firme, voluntária, consciente e convicta do educando, não conseguirá ele fazer aflorar, de dentro de si mesmo as perfeições potenciais, que jazem no fundo do seu espírito em forma de sementes.
     Interesse. O interesse é a intermediação entre essa intenção e a sua implementação, ou sejam, os atos da perfeição pretendida.
     Atenção. A atenção permanente do educando na cotidianidade da vida social, em contacto com o seu próximo, no lar, na escola e na vida urbana, é condição importantíssima na expectativa das oportunidades naturais, espontâneas de aproveitamento das oportunidades para praticar os atos da perfeição apetecida.
     Consciência. Durante o 1º estágio, a atenção e a consciência do educando devem discernir (e para isso ser treinadas) entre as situações que se apresentarem. Isto é, aquelas da mesma natureza do hábito da perfeição visada, para, então, cometer o respectivo ato: de caridade, ou de indulgência, ou de justiça, etc.
     Exercício. Os hábitos morais e espirituais se formam no exercício dos respectivos atos, mas também se fortalecem depois de consumados na constância desses atos.
     Repetição. Também é o “processo fundamental” na formação dos hábitos das perfeições espirituais, não pela mera repetição em si mesma, mas sim, pelas pequeninas mudanças que a prática de cada ato provoca no espírito. A repetição suficiente desses atos quebra as resistências íntimas do educando, do vício contraposto, se existente, do orgulho em se dobrar pela humildade, pela preguiça, egoísmo, desamor ao próximo, etc.
     Mudança. Pode-se bem estimar a profundidade da mudança para melhor no espírito dos educandos da “Pedagogia da Espiritualidade”, quando passarem a fazer germinar dentro de si mesmos as sementes das perfeições potenciais do seu espírito: manifestando alguma caridade, esperança, humildade, indulgência (perdão), justiça, honestidade, lealdade e veracidade.

2.1.6. DESCONSTRUÇÃO DO HÁBITO
a)      “Um hábito pode ser destruído por substituição, isto é, por aquisição de um hábito contrário ao que se quer extinguir. É certo que este processo é muito eficaz, especialmente na ordem moral, porque dá uma finalidade positiva à atividade: normalmente, começando-se por adquirir hábitos de paciência e de doçura, do que limitando-se a sufocar a ira pronta a explodir face a uma provocação habitual” (JOLIVET).
Comento. Um dos pontos fundamentais da “Pedagogia da Espiritualidade” é o reconhecimento do seu poder de remover um mau hábito, ou mesmo um vício, pelo processo de afloramento do bom hábito que lhe é oposto. Assim, o vício do orgulho desbancado do seu lugar pela perfeição da humildade; o vício da desonestidade suplantado pela perfeição da honestidade; o mau costume do desespero varrido pela perfeição da esperança; etc. E ainda prescreve essa “Pedagogia” que é inócuo combater direta e frontalmente um vício, porque qualquer vício, como mal que é, não tem realidade ontológica, é um vazio1 que deve ser preenchido pela perfeição diretamente oposta a ele.

1Vide em “Fundamentos Antropológicos” (Antropologia Anímico-Evolutiva-Gráfico e fundamentos doutrinários), e, principalmente, a conseqüência pedagógica.

b)      Citações:
     “Os hábitos adquiridos podem ser perdidos. E as leis do seu desaparecimento são exatamente contrárias às leis de sua aquisição. Os hábitos podem desaparecer:
. “pelo desuso, isto é, quando os atos habituais cessam de ser exercidos, o que pode ser realizado, quer pela diminuição progressiva do número desses atos (é o caso do fumante que diminui, cada dia, o número dos seus cigarros), quer pela supressão radical (método heróico, exigindo grande força de vontade)”
. “pela substituição, isto é, quando se procura adquirir um hábito oposto ao que se pretende destruir. É mais fácil eliminar o vício,substituindo-o por outro hábito, do que o combatendo de frente” (T.M. SANTOS).
Comento. É verdade que os hábitos de um modo geral, podem ser desorganizados, e desaparecem naturalmente pelo desuso, pela falta do exercício, ou seja, pela ausência dos indispensáveis atos de manutenção. O que costuma acontecer com os hábitos motores, intelectuais ou sociais. Porém, tal não pode acontecer com os hábitos morais e espirituais. É o reiterado ensinamento da Doutrina Espírita: o Espírito não ode retrogradar. As conquistas espirituais são definitivas e irreversíveis, conforme nos convence a boa e cautelosa leitura da Codificação. (LE – Instr., VI, p.20), (LE – Qs. 118, 178a, 193, 194a, 398a, 778), (GÊ – XI, 48).
—E PIERO UBALDI dispõe: “A assimilação por automatismos e transmissão ao subconsciente é o meio de transmissão à eternidade das qualidades adquiridas por fruto do vosso trabalho”. (“A Grande Síntese” – pág. 247).

2.2. HÁBITOS E EDUCAÇÃO

2.2.1. INTEGRAÇÃO DO HÁBITO NA EDUCAÇÃO
a)      Citações:
     É freqüente nos autores o reconhecimento da correlação entre hábito e aprendizagem:
     “Especialmente os hábitos relativos aos valores essenciais devem sua origem à educação” (GUILLAUME).
     As experiências sobre as condições da aprendizagem, isto é, habituar-se, são particularmente interessantes” (JOLIVET).
Comento. A correlação acima reconhecida entre hábito e aprendizagem, foi magistral e indelevelmente marcada por ALLAN KARDEC em (LE – Q.685a, p.2):
“A educação é o conjunto dos hábitos adquiridos”. (“Não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém à educação moral pelos livros, e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos”).

2.2.2. Citações:
“A infância, pela sua plasticidade psicológica, representa a fase mais própria para a aquisição de hábitos. Daí a necessidade de se promover, desde cedo, na criança, a formação de hábitos de saúde,sociabilidade, disciplina, trabalho e elevação moral. O lar e a escola devem conjugar seus esforços nessa tarefa educativa que deve ser realizada desde a escola maternal. É necessário, porém subordinar essa formação de hábitos à evolução das tendências e interesses. Na adolescência, que é a fase de organização da personalidade, os hábitos assumem novas formas, devido ao aparecimento das tendências e interesses característicos dessa idade” (JOLIVET).
Comento. A “Pedagogia da Espiritualidade” recomenda o início de sua aplicação escolar desde o fim da alfabetização pelo menos, podendo recuar ainda mais desde o início do domínio da linguagem que abre o dialogo (verbal) entre pais e filhos. Mas inaugura sua possibilidade plena e técnica assim que os educandos posam se expressar facilmente pela linguagem escrita.
Também se reconhece a indispensabilidade da conjugação lar-escola. Ambas essas agências educativas deverão irmanar-se na aplicação concomitante, no que for possível, do afloramento pedagógico das perfeições potenciais do espírito do educando.

2.3. ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

2.3.1. Citações:
a)      “Cumpre-nos tornar automáticas e habituais, desde tenra idade, o maior número de ações úteis, evitando, cuidadosamente, todos os atos suscetíveis de se transformarem em hábitos prejudiciais” (T.M. SANTOS).
b)      “A luta contra os hábitos nocivos comporta uma ação preventiva e outra positiva. Para impedir a aquisição de maus hábitos, é necessário vigiar, atentamente, toda atividade habitual em formação”. (idem).
c)      “No trabalho de combater os hábitos nocivos, ou de suscitar a criação de hábitos sadios, de nada valem os discursos, os princípios e as máximas. É necessário, antes de tudo, aproveitar as situações concretas e as oportunidades práticas da vida. Dessa maneira, de um só golpe, lavaremos o educando a refletir, a sentir e a agir, no sentido dos valores que elevam e dignificam a vida” (idem).
Comento. O primeiro ponto, a estaca zero, de partida, de todo o trabalho de elaboração da presente “Pedagogia da Espiritualidade”, foi aceitar, de início com alguma relutância, que, de um modo geral, pouco valem “os discursos, os princípios, as máximas” acima referendadas. E, por isso, apelamos para as “situações concretas”, às oportunidades reais, simples, triviais e cotidianas para induzir os educandos à prática dos atos. Eliminados ficaram, assim, as tradicionais e inócuas lições de moral e de civismo. Ao invés deles, dispomos dos recursos dos Exercícios Preparatórios, que têm por finalidade levar os educandos a admirar as perfeições espirituais e a querer possuí-las.
d)     (ª LUIZ/F.C.XAVIER – “o Mundo Maior”, cap. VIII, 1ª ed., pág.113):
. “Temos milhões de pessoas irascíveis que, pelo hábito de se encolarizarem facilmente, viciam os centros nervosos fundamentais pelos excessos da mente sem disciplina (...). Enquanto isso, o serem educados mentalmente, para a correção das próprias atitudes internas no ramerrão da vida, lhes seria tratamento mais eficiente e adequado, pois regenerativo e substancial”.
Comento. Admirável passagem de nossa literatura mediúnica! É no ramerrão mesmo da vida cotidiana, na rotina do dia-a-dia, que se preparam as crianças e adolescentes para as grandes e ingentes conquistas futuras do Espírito.
e)      INTERPRETAÇÃO do texto de A. Luiz (á luz do Desenvolvimento da Espiritualidade):
1ª - A formação do hábito da cólera está indicando que também se pode formar os hábitos do bem: mansidão, cordialidade, tolerância que lhe são opostos.
2ª - Indica, outrossim, que o hábito torna fácil a prática dos atos que o formaram.
3ª - Aponta para a educação como a receita de correção durante o “ramerrão da vida”, que não é senão o quando e o onde da vida cotidiana.

2.4. DO CONSCIENTE PARA O INCONSCIENTE

2.4.1. TEORIA DE GUSTAVE LE BON
     GUSTAVE LE BON abre o seu livro “Psicologia da Educação” com a seguinte epígrafe: “L´educacion est l´arte de faire passer le conscient dans l´inconscient”.
Com esse pensamento identificou a educação com a formação dos hábitos, porque esses também se situam grande parte no inconsciente.
E expõe:
a)      (LE BON: “Psicologia da Educação”, livro III, cap.I): Toda educação consiste na arte de fazer passar o consciente para o inconsciente. Quando essa passagem é efetuada, o educador tem por único objetivo produzir no educando novos reflexos cujo complexo é sempre durável”.
b)      “O método geral que conduz a esse resultado — fazer passar o consciente para o inconsciente — consiste em criar associações, de início conscientes e que em seguida se tornam inconscientes”.
c)      “Qualquer que seja o conhecimento a adquirir: falar uma língua, andar de bicicleta ou a cavalo, tocar piano, pintar, aprender uma ciência ou arte, o mecanismo é sempre o mesmo. É preciso, mediante meios artificiais diversos, fazer passar o consciente para o inconsciente pelo estabelecimento de associações que engendram progressivamente os reflexos”.
d)     “A própria formação da moral — não escapa dessa lei. A moral não será seriamente constituída senão quando se torna inconsciente. Somente então ela pode servir de guia seguro para a vida”.
     “A psicologia moderna tem mostrado que o papel do inconsciente na vida de cada dia é imensamente superior ao papel do raciocínio consciente. O desenvolvimento do inconsciente se dá por formação artificial de reflexos resultantes da repetição de certas associações. Repetidas suficientemente, essas associações produzem atos reflexos inconscientes, isto é, formam hábitos. Repetidas durante várias gerações esses hábitos tornam-se hereditários1 e constituem, então, os caracteres das raças”.
e)      “O perfil do educador é de produzir ou de modificar esses reflexos. Ele deve cultivar os reflexos inatos úteis e a tarefa de anular totalmente, ou, ao menos, enfraquecer os reflexos nocivos. Dentro de certos limites, nós podemos formar nosso inconsciente, mas uma vez este formado, ele se torna soberano por sua vez e passa a nos dirigir”.
     “Não praticados continuamente, os reflexos adquiridos pela educação tendem a se dissociar. Emanados do hábito, eles não são mantidos senão pelo hábito”.
     “O papel do educador deve tender a agir sobre o inconsciente da criança e não sobre sua difícil razão”.
f) Repetição da coisa a executar até que ela seja perfeitamente executada é o princípio fundamental. Somente então os reflexos necessários estarão criados e, podemos acrescentar, fixados por muito tempo”.

1Os caracteres adquiridos não se comunicam à descendência, contrariando assim a tese de Lamarck. Le Bon incidiu no mesmo erro.

     “Para atingir o fim que deve perseguir, o professor pode atuar sobre os alunos por diversos modos, que a Psicologia lhe ensina, ou que deveria lhe ensinar. A imitação, a sugestão, o prestígio, o exemplo, o treinamento são procedimentos que ele deve saber manejas. O raciocínio e a discussão são os únicos métodos que ele deve rejeitar absolutamente”.
f)       (Livro II, cap. III): “A educação moral não estará completa senão quando o hábito de fazer o bem e de evitar o mal torna-se inconsciente. A grandeza de um caráter pode-se medir pela força inconsciente de sua moralidade”.
g)      A virtude é inconsciente de si mesma. O homem realmente virtuoso ignora que o é. Enquanto aquele que proclama possuir determinada perfeição, por isso mesmo, demonstra que não a possui: se a possuísse, não saberia; e, muito menos proclamaria.

2.4.2. TEORIA DE PIETRO UBALDI
a) (PIETRO UBALDI - A Grande Síntese – págs. 244/245 e 248):
     “A transmissão ao subconsciente se faz, precisamente, através da repetição constante. Por isso dizeis que o hábito transforma um ato consciente em ato inconsciente e dele forma uma segunda natureza”.
b)      uela expressão tão comum define exatamente a substância do fenômeno, e consubstancia o método da educação. Podeis, assim, pela educação, o estudo, o hábito, construir-vos a vós mesmos. Tão logo um ato é assimilado, a economia da natureza o deixa fora da consciência, porque, para subsistir, não mais precisa de que esta o dirija. Logo que uma qualidade é adquirida, é imediatamente abandonada aos automatismos, sob a forma de instinto, de caráter assumido pela personalidade”.
c)      “Não se trata de extinção ou de perda, porque tudo subsiste, presente e ativo, senão na consciência, indubitavelmente no funcionamento da vida, e continua a dar todo o seu rendimento. Apenas é eliminado da zona consciente, porque já pode funcionar por si, deixando o Eu em repouso. A qualidade assimilada, e transmitida ao subconsciente, deixa, assim, de ser fadiga, para se tornar uma necessidade, um hábito, um instinto”.
d)     “Assim, pois, a consciência representa apenas a zona da personalidade onde se realiza o labor da construção do Eu e de seu ulterior progresso. Em outros termos: ela se limita só à zona de trabalho; e é lógico. O consciente compreende unicamente a fase ativa, a única que sentis e conheceis, porque é a fase em que viveis e em que a evolução opera”.
(...............).
e)      “Assim como a repetição de inúmeros atos de defesa deu ao animal o instinto da defesa, a prática constante da moral confere ao homem atitudes morais”.

2.4.3. EDUCAÇÃO E HÁBITO NA DOUTRINA ESPÍRITA
Também na Codificação Espírita, encontramos a mesma identificação da formação dos hábitos com a educação moral:
a)      (LE-Q.685ª, p2): “A educação moral (não pelos livros), mas sim a que consiste na arte de formar os caracteres, a que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos” (...) hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis”.
     Nesse admirável texto, a palavra hábito encontra-se quatro vezes de permeio com a palavra educação (no texto integral).
c)      O hábito é ainda explicitamente citado, conexo com o seu próprio conceito educativo (deduzido), no seguinte texto:
     (LE-Q.894): Pergunta: “Há pessoas que fazem o bem espontaneamente, sem que precisem vencer quaisquer sentimentos que lhes sejam opostos. Terão tanto mérito, quanto as que se vêem na contingência de lutar contra a natureza1 que lhes é própria e a vencem?”.



_____________
1Por isso, Aristóteles considerava o hábito como uma segunda natureza, modificando-a para melhorar (bons hábitos) ou para piorar (maus hábitos).

Resposta; “Só não têm que lutar aqueles em quem já há progresso realizado. Esses lutaram outrora e triunfaram. Por isso é que os bons sentimentos nenhum esforço lhes custam e suas ações lhes parecem simplíssimas. O bem se lhes tornou um hábito. Devidas lhes são as honras que se costumam tributar a velhos guerreiros que conquistaram seus altos postos”.
d)     O texto de (LE-Q.646) (vide) não conflita com o de 894. Quem vence dificuldades no presente para praticar o bem tem o seu mérito neste presente (Q.646). Mas quem no presente pratica o bem sem dificuldades tem o seu mérito no passado, quando o praticava com muito esforço vencendo resistências (íntimas e externas).
     Podemos esquematizar didaticamente esse texto de 894, separando os seus elementos:
     Formação do hábito. Está implícita nas expressões: “lutar contra a natureza que lhes é própria e a vencer”; “lutas e triunfos de outrora”; “vencer quaisquer sentimentos que lhes sejam opostos”.
     Conseqüências do hábito: “Fazer o bem espontaneamente, sem que precisem vencer quaisquer sentimentos que lhes sejam opostos”; “já não tem que lutar”; “os bons sentimentos nenhum esforço lhes custam (agora) e suas ações lhes parecem simplíssimas”; “o bem se lhes tornou um hábito”.
     O mérito do hábito: “devidas lhes são as honras que se costumam tributar a velhos guerreiros que conquistaram seus altos postos”.
     A palavra educação não consta explicitamente desse texto, porém, o seu conceito, ligado à formação dos hábitos, está implícito: ninguém faz o bem espontaneamente, vencendo sentimentos contrários, lutando contra a própria natureza ainda não desenvolvida sem o fator educação, (autoeducação ou hetero-educação).
e)      EMMANUEL (in “O Consolador”, nº 254):
     “O adágio popular considera que “o hábito faz a segunda natureza e nós devemos aprender que a disciplina antecede a espontaneidade dentro da qual pode a alma atingir, mais facilmente, o desiderato da sua redenção”.
Comento. Disciplina, no estágio constituinte (de formação do hábito); espontaneidade no estágio constituído (do hábito já formado).
— Este adágio, que se tornou popular, segundo EMMANUEL, de que “o hábito é uma segunda natureza”, é do pensamento de ARISTÓTELES.
f)       EMMANUEL / F.G. XAVIER – (in “Pensamento e Vida” – Cap. 20):
     “O hábito é uma esteira de reflexos mentais acumulados, operando constante indução à rotina”.
     “Exageramos as nossas necessidades, apartando-nos da simplicidade com que nos seria fácil erguer uma vida melhor(...). Estruturamos, assim, complicado mecanismo de cautela e desconfiança(...)”.
     “(...). Somente adotando a bondade e o entendimento, com a obrigação de educar-nos e com o dever de servir como hábitos automáticos nos alicerces de cada dia (...) ainda mesmo à custa de nosso sacrifício(...)”.
     “Toda a passagem do Senhor, entre os homens, desde a Mangedoura, que estabelece o hábito da simplicidade, até a Cruz afrontosa que cria o hábito da serenidade e da paciência(...), o apostolado de JESUS é resplendente conjunto de reflexos do caminho celestial para a redenção do caminho humano”.

2.2.4. DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE E A TÉCNICA DE FORMAÇÃO DOS HÁBITOS.
a)      E a Técnica de Formação dos Hábitos do Bem consiste na repetição ininterrupta e de longa duração dos atos pertinentes à perfeição que se deseja para si mesmo, ou para o educando. Desde que essas ações se disponham numa escala crescente de valor moral, até atingir os relevantes empreendimentos e sublimes gestos da virtude considerada. Missão de uma vida inteira, ou até de várias existências.
b)      Daí emana, naturalmente, a conclusão de que o conceito espírita de educação — formação dos hábitos do bem — coincide com o processo que estamos propondo à reflexão dos estudiosos, ou seja, o do Afloramento Induzido das Perfeições Potenciais do Espírito, pela repetição gradual de atos da mesma natureza (cada ato sucessivo com o acréscimo de valor correspondente a proporcional, e não exclusivamente pela simples repetição).
c)      É essa sucessão diuturna de atos que forma o respectivo hábito, com raízes no inconsciente. De onde emergem à tona do consciente os comportamentos morais e espirituais visados. Assim, de certo modo, hábito e emersão, são conexos.
     Reconheça-se uma relação de similitude operacional entre estas quatro expressões ou processos educativos:
     Desenvolvimento da Espiritualidade pelo Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito;
     Formação dos hábitos do bem;
     Educação Moral, do caráter.

2.2.6. HÁBITOS VIRTUDES EM PLATÃO E ARISTÓTELES
a)      “A moral de ARISTÓTELES é, pois, um eudemonismo1 racional.
O único meio de chegar a esta felicidade perfeita, conseqüência do desenvolvimento máximo de nós mesmos, é a virtude.
Comento. A “Pedagogia da Espiritualidade”, objetivando promover a germinação das sementes das perfeições potenciais do espírito do educando, promovendo a emersão dessas perfeições, estará, ao mesmo tempo, desenvolvendo progressivamente, e na mesma proporção, o seu sentimento de felicidade. Porque a felicidade não é mais do que o gozo espiritual, a fruição e o deleite das perfeições conquistadas. E nesse posicionamento, essa pedagogia dá continuidade prática e educativa ao eudemonismo de ARISTÓTELES.




1Eudemonismo é todo posicionamento filosófico que considera a felicidade como o sumo bem, e como prêmio da virtude. Todavia, para o Cristianismo, o sumo bem é Deus.

b)      “A virtude não é ciência que se possa adquirir pelo estudo, como PLATÃO, mas hábito que se adquire pelo esforço constante da vontade livre, lutando contra o atrativo do mal e contra as nossas más inclinações. Sem dúvida, a razão pode e deve guiar-nos na prática do bem moral, mas não poderá por si mesma produzi-lo; a vontade viciosa, pelo contrário, chega até a corromper a razão.
c)      “A virtude é, pois, como que a resultante de três fatores: a natureza e a sua tendência espontânea para o bem, a razão que dirige esta tendência, enfim, a prática que gera o hábito”. (C. LAHR – “Manual de Filosofia” – Liv. Apostolado da Imprensa. Porto, 1958, pág. 546).
Comento. Na presente tese da educação espiritual, a natureza são as sementes das perfeições depositadas pelo Criador no fundo das almas humanas, cuja germinação conduz os educandos para o bem; a razão é a força da lógica que está presidindo toda a estrutura da nossa “Pedagogia da Espiritualidade”; o hábito é a disposição moral, ADQUIRIDA firme e constante, para a prática dos atos das perfeições.
     “Pense-se, por exemplo, no que representam de liberdade para o espírito, os hábitos intelectuais; para a vida moral, as virtudes (que propriamente são hábitos); para a vida social, a linguagem e a escrita, assim como a técnica dos ofícios. O maravilhoso é que todos esses automatismos, assinalando de cada vez novas conquistas e fixando-as em forma de hábitos, liberam as forças do homem para novos progressos” (JOLIVET – “Psicologia”).

2.3. TEORIA BIDIMENSIONAL DOS CONCEITOS CONJUGADOS DE EDUCAÇÃO E DE HÁBITOS DO BEM

2.3.1. OS DOIS SENTIDOS: DA EDUCAÇÃO E DO HÁBITO

a)      1º SENTIDO AFERENTE (DE ENTRADA) – A educação como sendo a passagem de algum resíduo dos atos conscientes, livres e deliberados de certa perfeição — suficientemente repetidos — do consciente para o inconsciente, estruturando assim o hábito dessa perfeição.
b)      2º SENTIDO EFERENTE (DE SAÍDA) – A educação — como indica a etimologia da palavra latina “educere” — ou seja tirar (de dentro para fora), do inconsciente para o consciente, as perfeições potenciais que jazem no fundo do espírito, culminando, ou se exteriorizando, em atos de comportamento daquelas perfeições. Afloramento esse que é provocado pelos resíduos1 dos atos que deslizam para o inconsciente.

2.3.2. OS DOIS MOVIMENTOS PSÍQUICOS – Notamos aí o delineamento de dois movimentos psíquicos de sentidos contrários um do outro:
a)      1º Movimento centrípeto: do consciente para o inconsciente, cuja carga são os resíduos dos atos, sedimentando o hábito de determinada perfeição;
b)      2º Movimento centrífugo: do inconsciente para o consciente, manifestando o hábito da perfeição em forma de comportamento, de atos concretos.
Ambos compondo o processo bidimensional de educação; esta como conjunto de hábitos consolidados das perfeições almejadas.

1Resíduo de um ato é a parte deste ato que é esquecida, resvalando, por isso para o subconsciente, e depois para o inconsciente E aí passa a ativar as sementes das perfeições potenciais do espírito, ou a desenvolver mais essas perfeições. Como diz PIETRO UBALDI, “todo ato tem um eco e deixa um vestígio (“Grande Síntese” – pág. 247).

2.3.3. AS DUAS FACES DO HÁBITO
Como conciliar, ou articular entre si essas duas correntes de energia psíquica? O hábito, conclui-se, é bifronte, isto é, apresenta-se com duas faces:
a)      1ª FACE DO HÁBITO – É a vertente inconsciente; formada pela força de predisposição, que atua de dentro do inconsciente, facilitando a prática espontânea (sem esforço) da perfeição que foi aflorada, que veio à tona do consciente.
b)      2ª FACE DO HÁBITO (INTERNA) – É a vertente consciente; a manifestação externa do hábito, ou sejam os atos naturais, fáceis e espontâneos, praticados sem esforço. Esses atos corporificam um novo comportamento da mesma natureza da perfeição que está emergindo do inconsciente.

2.2.5. HÁBITO E EDUCAÇÃO MORAL
     “A educação moral deve estar em íntima relação com a vida da criança; não se trata, pois, de uma moralização ou doutrinação externa, intelectual, e sim, antes de mais nada, de ação, de realização prática diária, dentro e fora da escala, de aquisição, sobretudo, de hábitos morais. Não se trata, em suma, de algo aprendido, mas de algo vivido”.
(Lorenzo Luzuriaga in “Pedagogia”, Ed. Nacional, 7ª ed., pág. 177).
Comento. A Pedagogia da Espiritualidade coincide plenamente com essa indicação do consumado pedagogo LORENZO LUZURIAGA. Esta pedagogia ultrapassa o recinto da escola e se estende pelos ambientes fora desse recinto para a prática cotidiana de atos reais, concretos da perfeição moral e espiritual que se ache em desenvolvimento. Na escola, sob a orientação do educador, os educandos participam efetivamente da Seção de Trabalho e de quatro dinâmica pedagógicas. Fora da escala, vivenciam o Período de Aplicação Prática, durante 7 dias. Para o qual já foram preparados para o cometimento de atos reais concretos da perfeição focalizada, aproveitando (os educandos) para isso, as oportunidades, também reais, que eventualmente se apresentarem diante deles naqueles 7 dias.

RESUMO
1º - Na vida escolar pedagógica ---> Sessão de Trabalho
2º - Na vida diária real -à Período de Aplicação Prática.

2.3.5. TEORIA BIDIMENSIONAL DO CONCEITO DE EDUCAÇÃO


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2.3.4. OS DOIS MOMENTOS DO HÁBITO
Em todo o já exposto, pode-se reconhecer dois momentos, no processo de educação pela formação dos bons hábitos.
a)      1º MOMENTO – Do consciente para o inconsciente (de fora para dentro), de formação do hábito, comportando a repetição suficiente de atos árduos, com esforço, da mesma natureza da perfeição que está sendo aflorada, e que vai sedimentando os resíduos dos atos praticados nos porões do inconsciente como força psíquica íntima.
b)      2º MOMENTO – Do inconsciente para o consciente (de dentro para fora), de estado de hábito, pelo qual o hábito se manifesta em atos fáceis, espontâneos, suaves e quase sem esforço, compondo novo comportamento de acordo com a perfeição em desenvolvimento.

2.5.2. CONCLUSÕES
1ª - A Educação não é apenas a passagem do consciente para o inconsciente; nem apenas o trânsito do inconsciente pra o consciente. (“educere”).
2ª - A educação é a conjugação desses dois movimentos psíquicos de sentidos contrários, devidamente articulados. (teoria bidimensional de educação).
3ª - O primeiro movimento (1º momento), pela internalização de resíduos de atos repetidos no inconsciente, formando aí o hábito como força e energia estuanes (1ª face do hábito – interna, inconsciente).
4ª - O segundo movimento (2º momento) manifesta esse hábito já no consciente sob a forma de atos fáceis, naturais, suaves e espontâneos da perfeição em processo de emersão (2 face do hábito – externa, consciente).
5ª - Essa análise expõe para a multifatorialidade dinâmica psíquica da educação:
     dois movimentos (centrípeto e centrífgo);
     dois sentidos (aferente e eferente);
     dois momentos (inicial e consecutivo);
     duas faces (interna e externa).
Fatores esses integrados uns nos outros, constituindo uma síntese do processo educativo. Deduzido da “Pedagogia da Espiritualidade”.

2.5. ENCERRAMENTO

2.5.1. Resumo do estudo dos hábitos
1º - Conceituou-se o hábito; o que ele é e o que não é.
2º - Foram classificados os hábitos e indicadas suas funções.
3º - Foram expostos os processos sucessivos de formação dos hábitos e os de sua desconstrução.
4º  - Estabeleceu-se a correlação muito íntima entre hábitos e educação.
5º Conceituou-se a educação como a arte de passagem do consciente para o inconsciente e vice-versa.
6º - Foram expostas os textos da Codificação Espírita que correlacionam a educação com a formação dos hábitos, da qual resulta a Educação Moral.
7º Correlacionou-se o desenvolvimento da espiritualidade com a técnica de formação dos hábitos das perfeições potenciais do espírito.
3ª PARTE – TEORIA BIDIMENSIONAL DO CONCEITO DE EDUCAÇÃO.
8º - Delinearam-se os dois conceitos de educação de sentidos opostos.
9º - Reconheceram-se os dois sentidos, os dois movimentos, as duas faces, e os dois momentos da educação.
10º - Deduziram-se as conclusões.


2.5.3. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA PARA ESTUDO DOS HÁBITOS

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