segunda-feira, 25 de abril de 2016

Textos 3-4

PREÂMBULO
(Uma linhagem de filósofos e pedagogos mantém através dos tempos a permanência por 25 séc. da idéia do potencial anímico das perfeições espirituais do homem.
Textos de Platão Cícero Comenius, Descartes, Kant, Rousseau Sêneca, Pestalozzi, Kardec e P. Ubaldi.
Esses textos contemplam os três pontos fundamentais deste estudo.
            1º - Existência no homem das sementes das perfeições;
2º - Deus ou a Natureza depositou essas sementes no fundo das almas criadas;
3º - A possibilidade de germinação e desenvolvimento dessas sementes.

3.4.1.    Platão (428-347 ª C.)
     De certo modo, segundo um determinado ângulo de visão, Platão admitiu essa potencialidade da alma humana para o desenvolvimento das virtudes e do conhecimento. E a encontramos na sua Teoria das Idéias, combinada com a Tese da Reminiscência e a Prática da Dialética.
a)    Teoria de Idéias. Platão postulou o Mundo das Idéias acima do Mundo Terreno. Inteligível, perfeito, imaterial e imutável o primeiro, e sensível, imperfeito e mutável o segundo. Nesse plano superior, situar-se-iam as Idéias, como padrões perfeitíssimos de todos os objetos, virtudes, qualidades etc. do mundo inferior terreno. Essas coisas terrenas seriam como sombras pálidas, reflexos, cópias muito imperfeitas das Idéias, as quais seriam mais reais do que as realidades deste nosso Mundo Sensível.
     As almas, antes de reencarnar, teriam contemplado no Mundo das Idéias os modelos perfeitos de tudo que existe no mundo terreno, e trariam, dentro delas, esses padrões exemplares de tudo que existe, inclusive das virtudes, do sumo bem, da justiça, do amor, temperança, prudência, beleza, verdade, coragem, piedade, alegria, etc., todas em si mesmas, de modo absoluto. Mas também de todas as coisas materiais.
b)    A Reminiscência seria a capacidade, o poder, dessas almas, de recordar essas idéias modelares que jazem no fundo delas, mas que estão obscurecidas pelo mergulho dessas almas na matéria corporal, mas conservando inatas essas lembranças. Aprender, portanto, seria recordar o que foi contemplado pelas almas antes de descerem a este mundo material.
c)    A Dialética constituiria o processo racional de as almas promoverem a clarificação das Idéias. Um processo ascendente ao mesmo tempo racional e sentimental, mas gradual até o pleno vislumbre e conscientização desses padrões que dormitam no âmago do espírito. Todavia, sempre partindo das realidades materiais, das coisas particulares, sensíveis e imperfeitas deste mundo terreno. Desse modo, a dialética seria um método de acesso do sensível imperfeito ao inteligível perfeito.
d)    Assimilação pela Pedagogia da Espiritualidade
     Podemos estabelecer as seguintes assimilações, ou comparações, da filosofia de Platão com o Desenvolvimento Pedagógico e Auto-Educativo da Espiritualidade, Pelo Processo de Afloramento, Induzido e Assistido, Pelo Educador, das Perfeições Potenciais do Espírito do Educando.
     As Idéias Perfeitas vislumbradas antes da reencarnação das almas e trazidas ao plano terreno no âmago delas são redutíveis às sementes das perfeições espirituais depositadas pelo Criador no fundo das almas, no momento da criação delas.
     A Reminiscência é a faculdade do espírito humano de promover a germinação e desenvolvimento dessas sementes das perfeições por ato próprio.
     A Dialética pode ser comparada à Técnica do Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito, resultando nos atos pessoais e concretos de comportamento moral e espiritual manifesto, visível, de vivência efetiva dessas perfeições.

3.4.2.    Marco Túlio Cícero (106 a 43 ªC.)
(da obra “Do Sumo Bem e do Sumo Mal” – Ed. Martins Fontes – 1ª ed., 2005/SP)
     Há um amor de ciência inato na alma (...). Desta semente deitada pela natureza nascem e se aperfeiçoam depois a temperança, a modéstia, a justiça e toda e qualquer honestidade”.
     A natureza humana está ordenada para todas as virtudes, e por esta causa as crianças, ainda sem doutrina nenhuma, se movem por um como simulação das virtudes, cujas sementes trazem em si, e que são como que, os primeiros elementos da natureza, com os quais, ampliados depois, se compõe o poema da virtude (...) não sem causa vemos nas crianças tais centelhas de virtude, que mais adiante devem acender a razão do filósofo (...)”,
     “(...) certas nações das coisas mais altas, e o preparam para aprender, e o induz a fazer medrar as sementes da virtude que no homem estão plantados desde o nascimento”.
     “Há em nossos espíritos germes inatos de virtude, que, se pudessem desenvolver-se, a própria natureza nos conduziria à vida bem-aventurada” (3 Tsc) – (88c) (apud Comenius).

3.4.3.    Lúcius Annaeus Sêneca (4 a 65 ªC.)
     A virtude (a verdadeira virtude) não é atribuída a uma alma sem que ela tenha sido treinada, e minada, e aperfeiçoada através da prática.
Comento. 1. Do que se conclui que a virtude preexiste nas almas em estado potencial sem o que não poderia ser treinada, ensinada e aperfeiçoada.
2. A Pedagogia da Espiritualidade coincide justamente com esse notável e original pensamento do filósofo estóico de Roma Clássica. O Processo de Afloramento das Perfeições Espirituais e Potenciais das almas dos educandos não deixa de ser um treinamento anímico, pela prática efetiva e diária dos atos dessas perfeições ou virtudes.

3.4.4.    Johan Amos Cominius (1592-1670)1
a)    As sementes e sua germinação
“Educar prudentemente a juventude é procurar que suas almas se preservem das corrupções do mundo, e favorecer, com conselhos puros e contínuos, bem como com exemplos, a feliz germinação das sementes de honestidade nelas lançadas” (50d – número da pág. Na obra de referência).
     “Para a salvação do gênero humano (...), é necessário que nasçam, primeiro, as sementes das coisas, para que elas gradualmente se desenvolvam” (35b).
     “Nossas ações, no início, são tênues, rudes e extremamente confusas. Paulatinamente, se desenvolvem as potências da alma” (67b).
     “A Natureza colocou em nós a semente dos três elementos: Erudição, Virtude e Religião” (80a).
     “A Sabedoria divina plantou no homem raízes eternas” (81c).
     “O entendimento do homem, ao vir a este mundo, foi comparado, mui acertadamente, à semente, ou germe, na qual, embora no momento não exista a figura da erva ou árvore, contém em si, em potencial, a árvore, ou erva, como claramente se comprova quando, depositada a semente na terra, emite raízes para baixo e talos para cima que, em virtude da força nativa, se convertem, depois, em troncos e ramos, se cobrem de folhas e se adornam de flores e frutos. Nada, pois, necessita o homem tomar do exterior, mas precisa apenas desenvolver o que encerra oculto em si mesmo e assinalar claramente a intervenção de cada um de seus elementos” (destaque do original), (83a).
     “Acaso não é isto uma demonstração clara de que no ho9mem se encerram todas as coisas? (84d).
     “Duas são as razões em que nos beseamos para assegurar que são natos, no homem, certos germes de virtude” (88d).

2Em “Didática Magna” – Ed. Organização Simões (RJ-1954). As referências às páginas são dessa obra.

     “Quão cegos estamos em não ver que há em nós a raiz de toda a harmonia” (89d).
     “Vamos demonstrar que existe naturalmente no homem a raiz da religião, uma vez que o homem é a imagem de Deus” (91a).
b)    O papel do homem: desenvolver as sementes.
     “Como vemos,  Natureza nos dá as sementes da ciência, da honestidade e da religião, mas não nos proporciona a própria ciência, religião e virtudes. Estas se adquirem aprendendo, rezando e praticando” (96b).
     “Nada, pois, necessita o homem tomar do exterior, mas precisa apenas desenvolver o que encerra oculto em si mesmo” (83a).
     “Os germes da Ciência, Costumes e Piedade foram postos no coração de todos os homens (...), necessariamente se deduz que não têm necessidade senão de ligeiro impulso e de prudente direção” (139b).
     “Ensina aqui nosso Salvador que Deus é o autor de todas as coisas, deixando que o homem somente receba, em seu coração, as sementes das doutrinas, que germinam e crescem até a maturidade sem que ele perceba” (172d).
Comento. A Pedagogia da Espiritualidade, difere desse último conceito. Ao contrário, destaca o esforço moral árduo do homem para desenvolver essas sementes, e assim conquistar o mérito desse desenvolvimento espiritual.

3.4.5.    René Descartes (1596-1650)1
a)    A Perfectibilidade cartesiana
“Guarda o espírito humano um não sei quê de divino, no qual foram depositadas as primeiras sementes dos pensamentos úteis (IV regra, pág. 36).
“Estamos convencidos de que os primeiros germes das verdades (foram) depositadas pela natureza no espírito do homem” (IV regra, pág. 40).

3.4.6.    Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)2
a)    O reservatório no fundo das almas
“A natureza só dá (ao homem) de imediato os desejos necessários à sua conservação e as faculdades suficientes para os satisfazer. Ela põe todas as outras (faculdades) como que em reserva no fundo de sua alma para se desenvolverem aí se preciso” (62d).
     “Estendamos o amor-próprio sobre os outros seres, nós o transformaremos em virtude, e não há coração humano em que esta virtude não tenha sua raiz” (277c).
“(...) o primeiro sentimento da justiça é inato no coração humano (...)” (322b)
b)    A origem da admiração pelas grandes almas
     “Se não há nada de moral no coração do homem, de onde lhe vêm esses transportes de admiração pelas ações heróicas, esses arroubos de amor pelas grandes almas? Esse entusiasmo da virtude, que relação tem com nosso interesse particular?” (334a).
     “Há, portanto, no fundo das almas um princípio inato de justiça e de virtude de acordo com o qual, apesar de nossas próprias máximas, julgamos boas ou más nossas ações e as alheias, e é a esse princípio que chamo consciência” (335d).

1Textos captados na obra “Regras para a Direção do Espírito – Ed. TOR/RJ.
2Textos destacados da obra “Emílio, ou da Educação – Ed. Garnier SP – 1968.



3.4.7      Emmanuel Kant (1724-1804)
a)    Educação e desenvolvimento das perfeições (dons naturais).
     É atribuída a Kant uma pequena obra intitulada “Pedagogia”1 na qual expende suas idéias sobre educação. Entre as quais surpreendemos afirmações sobre as sementes das perfeições como“dons naturais” que cabe ao homem desenvolver porque estão dentro dele mesmo2.
     “Uma educação que irá desenvolver os dons naturais do homem em proporção e relação adequada à sua finalidade (...). A providência quis que o homem desenvolvesse o bem que jaz escondido em sua natureza, e assim falou ao homem: “Avança para o mundo, eu te forneci todas as potencialidades do bem. Cabe a ti desenvolve-las e, assim, tua felicidade ou infelicidade dependem apenas de ti” (330c).
     É ainda consignada a Kant a definição de educação, a qual contém a idéia do potencial das perfeições que deve ser desenvolvido:
     “A educação consiste em desenvolver, em cada indivíduo, toda a perfeição de que ele é suscetível”.
b)    O dever moral do homem
     “Há no homem muitos poderes que não foram desenvolvidos, e é nossa tarefa desenvolver esses dons naturais (...) a partir do seu estado germinal3, conduzir o homem à realização do seu destino (330a).”
     “A Providência não depositam no homem uma bondade inteiramente formada, mas apenas capacidade, sem distinção moral.
     O dever do homem é aperfeiçoar-se; cultivar seu espírito” (330d). No homem não há germe que não seja para o bem”.

3.4.7.    Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827)
a)    Do livro “Pestalozzi, Educação e Ética” – Dora Incontri – Ed. Scifione – 1998/SP
     “Confiante nas faculdades da natureza humana, que Deus colocou também nas crianças mais pobres e mais desprezadas, eu não tinha apenas aprendido em experiências anteriores que essa natureza desdobra as mais formosas potencialidades e capacidades em meio ao lado da rudeza, do embrutecimento e da ruína, mas via nas minhas próprias crianças irromper essa força viva, mesmo em meio a toda a sua brutalidade” (142/143 – original de Pestalozzi na “Carta de Stans”).
     “Para Pestalozzi, é essencial ao pleno desenvolvimento das potencialidades humanas que elas brotem e cresçam em equilíbrio, num balanceamento perfeito” (24b).
     “Não se trata apenas de despertar a divindade interior de homem, mas de reprimir a sua animalidade” (55d).
     “Em ´Minhas Indagações´, ele reafirma, pela prática, seu conceito de divindade interior — a presença de um germe de perfectibilidade em nós—, que garante a possibilidade do homem realizar-se moralmente, sobrepondo-se aos instintos (...)” (90a).

1Outros lhe dá o título de “Reflexões Sobre a Educação”.
2Apud “Fundamentos da Educação Moderna” de Frederick Mayer (Zahar editores RJ – 1976 – págs. 322 a 331).
3Estado de germe, de semente.

     “Não temos nenhum direito de limitar a homem algum a possibilidade de desenvolver as próprias faculdades (...) não temos nenhum direito de recusar à criança a possibilidade de desenvolver ainda que uma única de suas faculdades” (97a).
     “A formação integral do homem, que permite o pleno desabrochar de todas as suas potencialidades — como queria Pestalozzi —, depende, em primeiro lugar da capacidade de amor dos educadores (...) que, circundando a criança, faça vir à tona sentimentos de reciprocidade e, ao mesmo tempo, incite o seu potencial de desenvolvimento moral e intelectual” (97c,d).
     “É preciso que as crianças se exercitem, usando suas potencialidades morais, que encontrem aplicação objetiva para sua afetividade e que tenham oportunidade de ajudar ao próximo” (104d).
b)    Do livro “História da Educação Moderna — F.Ebly – Ed. Globo/RJ
     “Eu sabia quão úteis são as necessidades comuns da vida )...) para despertar faculdades que soterradas como estavam, sob os elementos mais rudes de sua natureza, não poderiam se tornar ativas e úteis, enquanto não fossem libertadas” (397b).
     “Os poderes da criança brotam espontaneamente de dentro, devido ao despertar dos impulsos inatos; não são o produto do ambiente exterior, como os materialistas querem nos fazer crer. Uma vez despertados, os poderes inatos lutam para se desenvolver até a maturidade, como a semente se transforma, naturalmente, num carvalho” (378c). (a).
     “Toda a instrução educativa deve ser extraída das próprias crianças e nascer dentro delas” (387d).
c)    Do livro “História da Educação” — P. Monroe – Ed. Nacional/SP
     “Uma pequena semente que contém o germe da árvore, sua forma e suas propriedades é colocada no solo. A árvore inteira é uma cadeia ininterrupta de partes orgânicas, cujo plano existia na semente e na raiz. O homem é como a árvore. Na criança recém-nascida estão ocultas as faculdades que hão de desdobrar-se durante a vida, os órgãos do seu ser gradualmente se formam, em uníssono, e constroem a humanidade à imagem de Deus. A educação do homem é um resultado puramente moral. Não é o educador que lhe dá novos poderes e faculdades, mas lhe fornece alento e vida. Ele cuidará apenas de que nenhuma influência desagradável traga distúrbios à marcha do desenvolvimento da natureza. Os poderes morais, intelectuais e práticos do homem devem ser alimentados e desenvolvidos em si mesmo e não por sucedâneas artificiais” (texto de PESTALOZZI) (327/328).

3.4.9.    DOUTRINA ESPÍRITA (meados séc. XIX).
a)    As sementes, ou germes das perfeições espirituais
     (OP – Morte Espiritual, p. 16): “Todas as faculdades, todas as aptidões, se encontram em germe no espírito desde a sua criação, mas em estado rudimentar, como todos os órgãos no primeiro filete do feto informe, como todas as partes da árvore na semente. O selvagem, que mais tarde se tornará homem civilizado, possui, pois, em si os germes, que, um dia, farão dele um sábio, um grande artista, ou um grande filósofo”.
     À medida em que esses germes chegam à maturidade, a Providência lhes dá par a vida terrestre, um corpo apropriado às suas novas aptidões”.
     (LE – Q.776): “Sendo perfectível, o homem traz em si o germe do seu aperfeiçoamento”.
     (EE – XIX, 12): “No homem, a fé é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em germe no seu íntimo, a princípio em estado latente (...)”, e que cumpre ao homem fazer que desabrochem e cresçam pela ação de sua vontade”.
     (EE – X, 18): “Sempre há nas dobras mais ocultas do coração o germe dos bons sentimentos, centelha vivaz da essência espiritual”.
     (EE – XI, 9, p.2): “Entretanto, por mais que façam, não logram sufocar o germe vivaz (de lei do amor) que Deus lhes depositou nos corações ao cria-los”.
b)    As faculdades latentes, a força interior e a ação do criador.
     (EE – XIX, p. 12, final): “Se todas os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem e se quisessem por a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas”.
Comento. 1. “Persuadir-se da força que em si trazem os encarnados” também coincide com as sementes potenciais que todo ser humano traz dentro de si mesmo. 2. Força essa que acionada pela vontade, no caso o apreciar e querer conquistar as perfeições espirituais, conduz; 3. o desenvolvimento da espiritualidade. Enfim, um feliz encontro desse texto do “Evangelho Segundo o Espiritismo com a Pedagogia da Espiritualidade.
     (LE – Q.754, p. 2): “Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem”.

     (LE – Q. 873): “É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento (de justiça), mas não o dá, Deus o pôs no coração do homem”.

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