4.6. SEXTA DINÂMICA HISTÓRICA
DE DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE
PELO CRISTIANISMO
PELO ADVENTO E PRÁTICA DO CRISTIANISMO ESPIRITUALISTA
4.6.1. CONCEITUAÇÃO
a) Há
várias formas historicamente registradas da prática real dos princípios da
doutrina estabelecida por Jesus de Nazaré. Há o cristianismo formal sustentado
em instituições religiosas, clero, hierarquia, ritual, liturgia, cerimônias,
dogmas, milagres, sacramentos, ensino moral evangélico, etc.
b) E
há, o cristianismo não que se diga informal, mas sim, muito menos formal e bem
menor institucionalizado em igrejas.Mais voltado para o próprio homem, num
sentido humanista, procurando se aproximar mais de Deus. Não com rituais,
cerimônias, liturgias e teurgias. Mas pelo aperfeiçoamento do próprio espírito
dos homens. Pelo que recebem estes todas, ou quase todas as atenções.
Procurando, para isso, seguir cumprir e praticar os ensinos do Cristo, de
caridade, bondade, perdão, amor ao próximo, humildade, fé, esperança etc.
c) E
este é o cristianismo que se pode chamar de cristianismo espiritualista.
d) Esta
segunda forma de cristianismo, a espiritualista, substitui a liturgia e rituais
do cristianismo institucionalizado em religiões e igrejas pelo “culto interno
do coração, individual ou coletivamente (em grupo), com sinceridade, fazendo o
bem e evitando o mal, e assim aproximando-se do seu Criador.
e) Em
suma, pela negativa, define-se o cristianismo espiritualista como
não-institucional, não-hierárquico, não-formalístico, não-ritualista, não
eclesiástico, não-místico. Pelo lado positivo é aquele cristianismo que cada
cristão verdadeiro incorpora, vive e pratica, individual e/ou coletivamente, os
ensinos morais e espirituais de Cristo, na constância da idéia do Deus-amor.
4.6.2. FUNDAMENTOS (doutrinários espíritas)
a) ÀS
DUAS FORMAS DE CRISTIANISMO
(O INSTITUCIONAZADO E O
ESPIRITUALISTA)
— (EL
– Intr., I, p.1): “Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos
Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as
palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento dos seus dogmas e o
ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última,
porém, se conservou constantemente inatacável; diante desse código divino, a
própria incredulidade se curva. É terreno, onde todos os cultos podem
reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam
suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas,
que sempre e por toda parte se originaram das questões dogmáticas (...) na
maioria elas se agarram mais a parte mística do que a parte moral, que exige de
cada um a reforma de si mesmo.
— Para
os homens, em particular, constitui aquele código uma regra de proceder que
abrange todas as circunstâncias da vida privada e da vida pública, o princípio
básico de todas as relações sociais que se fundam na mais rigorosa justiça. É
finalmente e acima de tudo o roteiro infalível para a felicidade vindoura
(...). É a bem dizer, um código de moral universal, sem distinção de culto.
(...) (para) conformar com a moral do Cristo o respectivo proceder”.
COMENTO. Aí acima está exposta o
que se pode chamar de um verdadeiro cristianismo espiritualista. Cuja liturgia
e ritual do culto a Deus é o interno, aquele que promana sinceramente do
coração, e que mantém como causa final a aproximação progressiva do homem a
Deus. O que exige a contínua e segura evolução do espírito nessa Direção, pelo
seu aperfeiçoamento moral, social e espiritual, marcado e pautal pela caridade
e pela bondade.
— (LE
– Q.830): “Entretanto, desde que mais desenvolvida e, sobretudo, esclarecida
pelas luzes do Cristianismo, sua razão mostrou (ao homem) que o escravo era um
seu igual perante Deus, nenhuma desculpa mais (o homem) tem (para considerar
natural a escravidão”.
— (LE
– Q.798, p.2): “Sua marcha (do Espiritismo), porém, será mais célere que a do
Cristianismo, porque o próprio Cristianismo é quem lhe abre o caminho e serve
de apoio. O Cristianismo tinha que destruir; o Espiritismo só tem que
edificar”.
— (LE
– Concl., VIII, 3): “Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro
bem”.
— (GÊ
– XVII, 15, 26 p.p. 1 e 3): “O céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras
não passarão” (MAT – XXIV, 35). As palavras de Jesus não passarão porque serão
verdadeiras em todos os tempos. Será eterno o seu código de moral, porque
consagra as condições do bem que conduz o homem ao seu destino eterno”.
“(...) O que não passará é o
verdadeiro sentido das palavras de Jesus; o que passará é o que os homens
construíram sobre o sentido falso que deram a essas mesmas palavras”.
— (LE
– Q.876 p.p. 1 e 2): “P – Posto de parte o direito que a lei humana consagra,
qual a base da justiça, segundo a lei natural?
“R – Disse o Cristo: Queira cada
um para os outros o que quereria para si mesmo (...). A sublimidade da religião
cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo”.
— (LE
– Q.930): “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve
morrer de fome”.
— (LE
– Concl., IV, p.2): “Do futuro se pode, pois, julgar pelo passado. Já vemos que
pouco a pouco se extinguem as antipatias de povo para povo. Diante da
civilização, diminuem as barreiras que os separavam. De um extremo a outro do
mundo, eles se estendem as mãos. Maior justiça preside à elaboração das leis
internacionais. As guerras se tornam cada vez mais raras e não excluem os
sentimentos de humanidade. Nas relações, a uniformidade se vai estabelecendo.
Apagam-se as distinções de raças e de castas e os que professam crenças
diversas impõem silêncio aos prejuízos de seita, para se confundirem na
adoração de um único Deus. Falamos dos povos que marcham à testa da
civilização”.
— (LE
– Q.707, p.3): “Fora preciso, entretanto, ser-se cego, para se não reconhecer o
progresso que, por esse lado (da organização social), têm feito os povos mais
adiantados. Graças aos louváveis esforços que, juntos, a Filantropia e a
Ciência não cessam de despender para melhorar a condição material dos homens
(...). O infortúnio e o sofrimento encontram onde se refugiem”.
— COMENTO.
Todo esse progresso social nos povos mais civilizados do Ocidente, entende-se
que se deve em grande parte ao advento do Cristianismo. Para o que destacam-se
a dignificação da mulher, a instituição do casamento, a monogamia, a igualdade
de direitos entre o homem e a mulher, a atenuação das leis penais, a
proclamação universal dos direitos humanos e sob controle internacional, o
abrandamento dos costumes, a condenação e erradicação da escravatura, a
penalização internacional do genocídio, do racismo, etc.
b) OS
DOIS CULTOS, O EXTERNO E O INTERNO
— (LE
– Q.649): “P – Em que consiste a adoração?1 R – Na elevação do
pensamento a Deus. Deste, pela adoração1, aproxima o homem sua
alma”.
— (LE
– Q.657): “Deus quer que o homem pense nele, mas não quer que só nele pense,
pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra”.
1Adoração. Não confundir com idolatria. 1 culto
prestado a ídolos. 2. Amar ou paixão exagerada, excessiva. Ídolo. Estátua ou
simples objeto cultuado como deus ou deusa (dic. Aurélio).
2Louvar. Exaltar, enaltecer, glorificar. Declarar
como bendito bendizer.
— (LE
– Q.653): “A adoração verdadeira é a do coração (...)”.
— (LE
– Q.654): “Deus prefere os que o adorava do fundo do coração, com sinceridade,
fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que as
não tornam melhores para com os seus semelhantes”.
— (LE
– Q.659): “A prece é um ato de adoração1. Orar a Deus é pensar nele;
é aproximar-se dele; é por-se em comunicação com ele. A três coisas podemos
propor-nos por meio da prece: louvar2, pedir, agradecer”.
— (LE
– Q.661): “Aquele que a Deus pede perdão de suas faltas só o obtém mudando de
proceder”. As boas ações são a melhor prece, por isso que os atos valem mais
que as palavras”.
— (LE
– Q.662): “(...) a prece do coração é tudo. A dos lábios nada vale”.
COMENTO. Todos esses sete textos
esclarecem com mais detalhes as características de um cristianismo
espiritualista e o quanto difere do outro formal, convencional e tradicional.
4.6.3. ISTÓRICO
a) É
indiscutível que o Cristianismo já nasceu espiritualista com a pregação e
exemplo pessoal do seu criador, Jesus de Nazaré, filho de Maria e José.
Iniciada a sua vida pública aos 33 anos de
idade, no ano 33 da Era Cristã. Toda a vida pública do Divino Mestre
nesse ano é um compêndio de espiritualidade: a existência do espírito a sua
imortalidade; as virtudes cristãs, que ele pregou e exemplificou são todas de
natureza espiritual e anímicas (sediadas nas almas); Deus como o Supremo
Espírito; as moradas celestes para as entidades espirituais; as recompensas
espirituais para os espíritos merecedores, nesses mundos espirituais (JOÃO
14:2); e o “galardão nos céus” (MAT – 5:12) de natureza espiritual; mesmo
pregado e sofrendo tormentos na cruz, ensinou e deu o exemplo pessoal de
indulgência, de esperança, paciência, resignação, obediência e de piedade,
todas de natureza espiritual.
b) Não
obstante esse testemunho espiritualista, também se pode admitir que a outra
forma de cristianismo, a institucionalizada em igrejas e em autoridade, numa
passagem evangélica da pregação pública de Cristo, pode ter tido a sua centelha
inicial em (MAT – 16:18,19): “Tu és Pedro, sobre esta pedra edificarei a minha
igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as
chaves do Reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e
tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
c) Há
muitas controvérsias sobre o significado da palavra igreja (“ekklesia”, palavra
grega que pode ser traduzida como: 1. reunião de um povo; 2. o povo de Deus, o
agrupamento dos crentes; 3. o templo de Deus; 4. o corpo de Cristo; 5. a noiva
de Cristo; 6. uma comunhão espiritual. E outros significados extraídos dos
textos dos próprios evangelhos e epístolas de Paula e de outros apóstolos e o
Apocalipse.
d) Admitamos
que tanto o cristianismo institucional (pelas igrejas) e debaixo de uma
autoridade (Pedro). Quanto ao cristianismo espiritualista (centrado nas
virtudes cristãs e espirituais do homem), teriam sido instaurado ao mesmo tempo
no 1º século da Era Cristã.
e) E
para reforçar a idéia do cristianismo institucional dispomos do texto seguinte:
— (Atos
– 9:31): “Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia e Galiléia, e Samaria tinham
paz e eram edificadas; e se multiplicavam)”.
f)
Todavia, essa expansão da institucionalização e da
autoridade correspondente, correram ao mesmo tempo do desenvolvimento do
cristianismo espiritualista. Uma mesma pessoa podia na sua igreja cumprir os
seus deveres para com ela (rituais, saciamentos, liturgia), e em seu lar, ou em
particular cumprir e desenvolver seus potencial moral, social e espiritual.
4.6.4. EFICÁCIA (espiritualizante)
a) No
levantamento dessa eficiência, ficaria muito arriscado distinguir uma da outra
essas duas formas do seguimento, prático e manifesto do Cristianismo. Restando
apenas a análise conjunta deles no tocante à avaliação dessa eficácia.
b) Mesmo
porque não se verificaram formas puras desses cristianismos. Tanto no
institucional deve ter havido (e ainda há) minoritariamente atividades e
vivências espiritualizantes. Quanto no espiritual, pode-se verificar algumas
traços institucionais remanescentes.
c) A
única diferenciação possível de ser, assim mesmo, presumidamente lógica, será
entre os graus de participação de uma ou de outra forma na eficácia do
conjunto.
d) Neste
particular, leva a palma o cristianismo espiritualista, por sua própria
natureza espiritual bem mais familiar com a espiritualização que se está
procurando dimensionar.
e) Deve-se
ao advento do Cristianismo a incorporação dos seguintes valores morais e
espirituais com repercussão na vida social:
— A
valorização do casamento monogâmico e a conseqüente igualdade de direitos entre
a mulher e o marido.
— A
espiritualização do casamento, sublimado em um compromisso moral e religioso
perante Deus.
— A
dignificação da mulher, elevada posição de objeto puramente sexual, e até de
escrava, à companheira do homem e em igualdade de condições.
— A
conscientização da natureza predominantemente espiritual do homem1 e
os cuidados com o espírito.
1“Vós que sois espirituais” GAL – 6:1).
“E acerca dos dons espirituais, não quero irmãos, que sejais
ignorantes”.
“O que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida
eterna” (GA – 6:8).
— a
imortalidade da alma e sua responsabilidade, além da morte física, sujeita
apenas e recompensas extraterrenas.
— a
atenuação das leis penais;
— o
abrandamento dos costumes;
— a
condenação da escravidão;
— o
reforço da idéia da imortalidade
— da
alma
— Etc.
CONCLUSÃO. O Advento do Cristianismo concorreu vigorosamente
na abertura de um novo entendimento da natureza espiritual da espécie humana.
Tendo como principal conseqüência os cuidados que, a partir daí, tem dispensado
o homem ao seu espírito, embora muito bloqueado pelo materialismo. E como
efeito ainda germinal — em gestação — o desenvolvimento de sua espiritualidade.
— O
progresso social, moral e espiritual verificado com mais visibilidade nas
nações cristãs do Ocidente, é um testemunho da eficácia dessa Boa Nova para o
incremento da espiritualidade. Em que pese o rolo compressor do materialismo
militante e agressivo.
— Não
obstante, esse Igor do Cristianismo, é ainda muito limitado e insatisfatório,
requerendo uma retroalimentação (“feed back”)1.
— O
Cristianismo tem sido uma dinâmica efetiva no desenvolvimento da
espiritualidade.
1Retroalimentação (vide conceito) no vocabulário
no fim deste Estudo.
—O progresso social e espiritual, verificado principalmente
nas nações cristãs mais avançadas do Ocidente, é um testemunho da eficácia do
advento do Cristianismo para o desenvolvimento da espiritualidade humana. Mas
esse vigor ainda é muito limitado, requerendo uma retroalimentação que
restabeleça a simplicidade evangélico-apostólica dos primeiros tempos da Era
Cristã.
4.6.5. PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE (repercussões nesta
pedagogia da dinâmica histórica espiritualizante do Cristianismo).
a) A
Pedagogia da Espiritualidade recolhe do cristianismo espiritualista uma valiosa
messe de contribuições:
b) O
catálogo das perfeições espirituais privilegiam as virtudes cristãs: caridade,
indulgência,a humildade, esperança e as virtudes ético-religiosas de justiça,
honestidade, veracidade e lealdade.
c) O próprio apelo tão incisivo do Cristianismo à
espiritualidade dos que se consideram cristãos durante dois milênios tem
inspirado e sustentado a instauração da Pedagogia da Espiritualidade. E esta
tem aditado a essa arquitetura dos valores espirituais do Cristianismo uma
proposta a sua pedagogia já milenar; o Processo Pedagógico de Afloramento
(emersão) ao nível da prática cotidiana das perfeições espirituais e potenciais
do espírito dos educandos. Proporcionando aos que assim aproveitaram essas
oportunidades pedagógico-cristãs à habilitação meritória às bem-aventuranças
acenadas por Jesus no Sermão do Monte:
— o
“reino dos céus”;
— o
consolo aos que choram;
— aos
mansos, a herança da terra;
— a
justiça aos que tem fome e sede;
— a
misericórdia aos misericordiosos;
— a
visão de Deus aos limpos de coração;
— aos
pacíficos, o serem chamados filhos de Deus;
— aos
perseguidos, o “reino dos céus”;
— aos
injuriados, a bem-aventurança;
— Reino
dos céus” esse que está dentro de vós (LUC – 17:21), (que poderão ser as
perfeições espirituais adquiridos).
— CRISTIANISMO E ESPIRITUALIDADE
Afirmar essa relação de causalidade é legítimo e é
histórico. O Cristianismo concorreu na abertura para uma nova compreensão da
espiritualidade do homem.
O reforço da idéia da imortalidade da alma e das penas e
recompensas extraterrenas concorreu para um maior cuidado com o espírito, e por
isso com o desenvolvimento da espiritualidade.
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