segunda-feira, 25 de abril de 2016

Textos 4-6

4.6. SEXTA DINÂMICA HISTÓRICA
DE DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE

PELO CRISTIANISMO
PELO ADVENTO E PRÁTICA DO CRISTIANISMO ESPIRITUALISTA

4.6.1. CONCEITUAÇÃO

a)       Há várias formas historicamente registradas da prática real dos princípios da doutrina estabelecida por Jesus de Nazaré. Há o cristianismo formal sustentado em instituições religiosas, clero, hierarquia, ritual, liturgia, cerimônias, dogmas, milagres, sacramentos, ensino moral evangélico, etc.
b)       E há, o cristianismo não que se diga informal, mas sim, muito menos formal e bem menor institucionalizado em igrejas.Mais voltado para o próprio homem, num sentido humanista, procurando se aproximar mais de Deus. Não com rituais, cerimônias, liturgias e teurgias. Mas pelo aperfeiçoamento do próprio espírito dos homens. Pelo que recebem estes todas, ou quase todas as atenções. Procurando, para isso, seguir cumprir e praticar os ensinos do Cristo, de caridade, bondade, perdão, amor ao próximo, humildade, fé, esperança etc.
c)       E este é o cristianismo que se pode chamar de cristianismo espiritualista.
d)       Esta segunda forma de cristianismo, a espiritualista, substitui a liturgia e rituais do cristianismo institucionalizado em religiões e igrejas pelo “culto interno do coração, individual ou coletivamente (em grupo), com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, e assim aproximando-se do seu Criador.
e)       Em suma, pela negativa, define-se o cristianismo espiritualista como não-institucional, não-hierárquico, não-formalístico, não-ritualista, não eclesiástico, não-místico. Pelo lado positivo é aquele cristianismo que cada cristão verdadeiro incorpora, vive e pratica, individual e/ou coletivamente, os ensinos morais e espirituais de Cristo, na constância da idéia do Deus-amor.

4.6.2. FUNDAMENTOS (doutrinários espíritas)
a)       ÀS DUAS FORMAS DE CRISTIANISMO
(O INSTITUCIONAZADO E O ESPIRITUALISTA)
      (EL – Intr., I, p.1): “Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento dos seus dogmas e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última, porém, se conservou constantemente inatacável; diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno, onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda parte se originaram das questões dogmáticas (...) na maioria elas se agarram mais a parte mística do que a parte moral, que exige de cada um a reforma de si mesmo.
      Para os homens, em particular, constitui aquele código uma regra de proceder que abrange todas as circunstâncias da vida privada e da vida pública, o princípio básico de todas as relações sociais que se fundam na mais rigorosa justiça. É finalmente e acima de tudo o roteiro infalível para a felicidade vindoura (...). É a bem dizer, um código de moral universal, sem distinção de culto. (...) (para) conformar com a moral do Cristo o respectivo proceder”.
COMENTO. Aí acima está exposta o que se pode chamar de um verdadeiro cristianismo espiritualista. Cuja liturgia e ritual do culto a Deus é o interno, aquele que promana sinceramente do coração, e que mantém como causa final a aproximação progressiva do homem a Deus. O que exige a contínua e segura evolução do espírito nessa Direção, pelo seu aperfeiçoamento moral, social e espiritual, marcado e pautal pela caridade e pela bondade.
      (LE – Q.830): “Entretanto, desde que mais desenvolvida e, sobretudo, esclarecida pelas luzes do Cristianismo, sua razão mostrou (ao homem) que o escravo era um seu igual perante Deus, nenhuma desculpa mais (o homem) tem (para considerar natural a escravidão”.
      (LE – Q.798, p.2): “Sua marcha (do Espiritismo), porém, será mais célere que a do Cristianismo, porque o próprio Cristianismo é quem lhe abre o caminho e serve de apoio. O Cristianismo tinha que destruir; o Espiritismo só tem que edificar”.
      (LE – Concl., VIII, 3): “Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem”.
      (GÊ – XVII, 15, 26 p.p. 1 e 3): “O céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (MAT – XXIV, 35). As palavras de Jesus não passarão porque serão verdadeiras em todos os tempos. Será eterno o seu código de moral, porque consagra as condições do bem que conduz o homem ao seu destino eterno”.
“(...) O que não passará é o verdadeiro sentido das palavras de Jesus; o que passará é o que os homens construíram sobre o sentido falso que deram a essas mesmas palavras”.
      (LE – Q.876 p.p. 1 e 2): “P – Posto de parte o direito que a lei humana consagra, qual a base da justiça, segundo a lei natural?
“R – Disse o Cristo: Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo (...). A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo”.
      (LE – Q.930): “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome”.
      (LE – Concl., IV, p.2): “Do futuro se pode, pois, julgar pelo passado. Já vemos que pouco a pouco se extinguem as antipatias de povo para povo. Diante da civilização, diminuem as barreiras que os separavam. De um extremo a outro do mundo, eles se estendem as mãos. Maior justiça preside à elaboração das leis internacionais. As guerras se tornam cada vez mais raras e não excluem os sentimentos de humanidade. Nas relações, a uniformidade se vai estabelecendo. Apagam-se as distinções de raças e de castas e os que professam crenças diversas impõem silêncio aos prejuízos de seita, para se confundirem na adoração de um único Deus. Falamos dos povos que marcham à testa da civilização”.
      (LE – Q.707, p.3): “Fora preciso, entretanto, ser-se cego, para se não reconhecer o progresso que, por esse lado (da organização social), têm feito os povos mais adiantados. Graças aos louváveis esforços que, juntos, a Filantropia e a Ciência não cessam de despender para melhorar a condição material dos homens (...). O infortúnio e o sofrimento encontram onde se refugiem”.
      COMENTO. Todo esse progresso social nos povos mais civilizados do Ocidente, entende-se que se deve em grande parte ao advento do Cristianismo. Para o que destacam-se a dignificação da mulher, a instituição do casamento, a monogamia, a igualdade de direitos entre o homem e a mulher, a atenuação das leis penais, a proclamação universal dos direitos humanos e sob controle internacional, o abrandamento dos costumes, a condenação e erradicação da escravatura, a penalização internacional do genocídio, do racismo, etc.
b)       OS DOIS CULTOS, O EXTERNO E O INTERNO
      (LE – Q.649): “P – Em que consiste a adoração?1 R – Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração1, aproxima o homem sua alma”.
      (LE – Q.657): “Deus quer que o homem pense nele, mas não quer que só nele pense, pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra”.


1Adoração. Não confundir com idolatria. 1 culto prestado a ídolos. 2. Amar ou paixão exagerada, excessiva. Ídolo. Estátua ou simples objeto cultuado como deus ou deusa (dic. Aurélio).
2Louvar. Exaltar, enaltecer, glorificar. Declarar como bendito bendizer.


      (LE – Q.653): “A adoração verdadeira é a do coração (...)”.
      (LE – Q.654): “Deus prefere os que o adorava do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que as não tornam melhores para com os seus semelhantes”.
      (LE – Q.659): “A prece é um ato de adoração1. Orar a Deus é pensar nele; é aproximar-se dele; é por-se em comunicação com ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar2, pedir, agradecer”.
      (LE – Q.661): “Aquele que a Deus pede perdão de suas faltas só o obtém mudando de proceder”. As boas ações são a melhor prece, por isso que os atos valem mais que as palavras”.
      (LE – Q.662): “(...) a prece do coração é tudo. A dos lábios nada vale”.
COMENTO. Todos esses sete textos esclarecem com mais detalhes as características de um cristianismo espiritualista e o quanto difere do outro formal, convencional e tradicional.

4.6.3. ISTÓRICO
a)       É indiscutível que o Cristianismo já nasceu espiritualista com a pregação e exemplo pessoal do seu criador, Jesus de Nazaré, filho de Maria e José. Iniciada a sua vida pública aos 33 anos de  idade, no ano 33 da Era Cristã. Toda a vida pública do Divino Mestre nesse ano é um compêndio de espiritualidade: a existência do espírito a sua imortalidade; as virtudes cristãs, que ele pregou e exemplificou são todas de natureza espiritual e anímicas (sediadas nas almas); Deus como o Supremo Espírito; as moradas celestes para as entidades espirituais; as recompensas espirituais para os espíritos merecedores, nesses mundos espirituais (JOÃO 14:2); e o “galardão nos céus” (MAT – 5:12) de natureza espiritual; mesmo pregado e sofrendo tormentos na cruz, ensinou e deu o exemplo pessoal de indulgência, de esperança, paciência, resignação, obediência e de piedade, todas de natureza espiritual.
b)       Não obstante esse testemunho espiritualista, também se pode admitir que a outra forma de cristianismo, a institucionalizada em igrejas e em autoridade, numa passagem evangélica da pregação pública de Cristo, pode ter tido a sua centelha inicial em (MAT – 16:18,19): “Tu és Pedro, sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do Reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
c)       Há muitas controvérsias sobre o significado da palavra igreja (“ekklesia”, palavra grega que pode ser traduzida como: 1. reunião de um povo; 2. o povo de Deus, o agrupamento dos crentes; 3. o templo de Deus; 4. o corpo de Cristo; 5. a noiva de Cristo; 6. uma comunhão espiritual. E outros significados extraídos dos textos dos próprios evangelhos e epístolas de Paula e de outros apóstolos e o Apocalipse.
d)       Admitamos que tanto o cristianismo institucional (pelas igrejas) e debaixo de uma autoridade (Pedro). Quanto ao cristianismo espiritualista (centrado nas virtudes cristãs e espirituais do homem), teriam sido instaurado ao mesmo tempo no 1º século da Era Cristã.
e)       E para reforçar a idéia do cristianismo institucional dispomos do texto seguinte:
      (Atos – 9:31): “Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia e Galiléia, e Samaria tinham paz e eram edificadas; e se multiplicavam)”.
f)        Todavia, essa expansão da institucionalização e da autoridade correspondente, correram ao mesmo tempo do desenvolvimento do cristianismo espiritualista. Uma mesma pessoa podia na sua igreja cumprir os seus deveres para com ela (rituais, saciamentos, liturgia), e em seu lar, ou em particular cumprir e desenvolver seus potencial moral, social e espiritual.

4.6.4. EFICÁCIA (espiritualizante)
a)       No levantamento dessa eficiência, ficaria muito arriscado distinguir uma da outra essas duas formas do seguimento, prático e manifesto do Cristianismo. Restando apenas a análise conjunta deles no tocante à avaliação dessa eficácia.
b)       Mesmo porque não se verificaram formas puras desses cristianismos. Tanto no institucional deve ter havido (e ainda há) minoritariamente atividades e vivências espiritualizantes. Quanto no espiritual, pode-se verificar algumas traços institucionais remanescentes.
c)       A única diferenciação possível de ser, assim mesmo, presumidamente lógica, será entre os graus de participação de uma ou de outra forma na eficácia do conjunto.
d)       Neste particular, leva a palma o cristianismo espiritualista, por sua própria natureza espiritual bem mais familiar com a espiritualização que se está procurando dimensionar.
e)       Deve-se ao advento do Cristianismo a incorporação dos seguintes valores morais e espirituais com repercussão na vida social:
      A valorização do casamento monogâmico e a conseqüente igualdade de direitos entre a mulher e o marido.
      A espiritualização do casamento, sublimado em um compromisso moral e religioso perante Deus.
      A dignificação da mulher, elevada posição de objeto puramente sexual, e até de escrava, à companheira do homem e em igualdade de condições.
      A conscientização da natureza predominantemente espiritual do homem1 e os cuidados com o espírito.


1“Vós que sois espirituais” GAL – 6:1).
“E acerca dos dons espirituais, não quero irmãos, que sejais ignorantes”.
“O que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (GA – 6:8).


      a imortalidade da alma e sua responsabilidade, além da morte física, sujeita apenas e recompensas extraterrenas.
      a atenuação das leis penais;
      o abrandamento dos costumes;
      a condenação da escravidão;
      o reforço da idéia da imortalidade
      da alma
      Etc.

CONCLUSÃO. O Advento do Cristianismo concorreu vigorosamente na abertura de um novo entendimento da natureza espiritual da espécie humana. Tendo como principal conseqüência os cuidados que, a partir daí, tem dispensado o homem ao seu espírito, embora muito bloqueado pelo materialismo. E como efeito ainda germinal — em gestação — o desenvolvimento de sua espiritualidade.
      O progresso social, moral e espiritual verificado com mais visibilidade nas nações cristãs do Ocidente, é um testemunho da eficácia dessa Boa Nova para o incremento da espiritualidade. Em que pese o rolo compressor do materialismo militante e agressivo.
      Não obstante, esse Igor do Cristianismo, é ainda muito limitado e insatisfatório, requerendo uma retroalimentação (“feed back”)1.
      O Cristianismo tem sido uma dinâmica efetiva no desenvolvimento da espiritualidade.


1Retroalimentação (vide conceito) no vocabulário no fim deste Estudo.


—O progresso social e espiritual, verificado principalmente nas nações cristãs mais avançadas do Ocidente, é um testemunho da eficácia do advento do Cristianismo para o desenvolvimento da espiritualidade humana. Mas esse vigor ainda é muito limitado, requerendo uma retroalimentação que restabeleça a simplicidade evangélico-apostólica dos primeiros tempos da Era Cristã.

4.6.5. PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE (repercussões nesta pedagogia da dinâmica histórica espiritualizante do Cristianismo).
a)       A Pedagogia da Espiritualidade recolhe do cristianismo espiritualista uma valiosa messe de contribuições:
b)       O catálogo das perfeições espirituais privilegiam as virtudes cristãs: caridade, indulgência,a humildade, esperança e as virtudes ético-religiosas de justiça, honestidade, veracidade e lealdade.
c)        O próprio apelo tão incisivo do Cristianismo à espiritualidade dos que se consideram cristãos durante dois milênios tem inspirado e sustentado a instauração da Pedagogia da Espiritualidade. E esta tem aditado a essa arquitetura dos valores espirituais do Cristianismo uma proposta a sua pedagogia já milenar; o Processo Pedagógico de Afloramento (emersão) ao nível da prática cotidiana das perfeições espirituais e potenciais do espírito dos educandos. Proporcionando aos que assim aproveitaram essas oportunidades pedagógico-cristãs à habilitação meritória às bem-aventuranças acenadas por Jesus no Sermão do Monte:
      o “reino dos céus”;
      o consolo aos que choram;
      aos mansos, a herança da terra;
      a justiça aos que tem fome e sede;
      a misericórdia aos misericordiosos;
      a visão de Deus aos limpos de coração;
      aos pacíficos, o serem chamados filhos de Deus;
      aos perseguidos, o “reino dos céus”;
      aos injuriados, a bem-aventurança;
      Reino dos céus” esse que está dentro de vós (LUC – 17:21), (que poderão ser as perfeições espirituais adquiridos).

— CRISTIANISMO E ESPIRITUALIDADE
Afirmar essa relação de causalidade é legítimo e é histórico. O Cristianismo concorreu na abertura para uma nova compreensão da espiritualidade do homem.

O reforço da idéia da imortalidade da alma e das penas e recompensas extraterrenas concorreu para um maior cuidado com o espírito, e por isso com o desenvolvimento da espiritualidade.

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